Olhando para o mundo que arde

 

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Olhando para o mundo que arde

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Lidar com o problema dos incêndios intencionais nas zonas da interface urbano/florestal.

A caça estava aberta para capturar um incendiário no ato. Utilizando um dispositivo de GPS plantado no veículo dum individuo suspeito, a polícia perseguiu o carro num caminho rural em Lake County, Califórnia, na tarde do dia 13 de agosto. Eles observavam o veículo que diminuiu por um momento a velocidade a 11 milhas por hora e saiu acelerando. Minutos mais tarde, o incêndio que foi conhecido como o Clayton Fire iniciou perto da zona onde o veículo tinha reduzido a velocidade. Três milhas ao norte, o carro parou por dois minutos num mirador que proporcionava uma vista perfeita do incêndio que crescia.

Quando foi finalmente controlado 13 dias mais tarde, o incêndio de Clayton tinha consumido quase 4000 acres e destruído mais de 300 construções. A Polícia acredita que começou quando o acusado, um homem chamado Damin Pashlik, reduziu a velocidade para atirar um fósforo ou um pedaço de papel em chamas pela janela do veículo para o capim seco. Ele foi detido pouco tempo depois e em setembro se declarou inocente de 17 acusações de incêndio culposo. No tribunal, a polícia revelou que tinha seguido a pista de Pashlik por mais de um ano e que o suspeitavam de ter iniciado uma dúzia de outros incêndios na área desde o verão de 2015.

Ao ler tudo isso, fiquei impressionado pelos motivos que poderiam levar alguém a iniciar um incêndio e o que poderia ser feito para preveni-lo, se fosse possível. O incêndio proposital, pensado muitas vezes como uma questão urbana, é também predominante na interface urbano/florestal e pode ser muito mais destrutivo.
De acordo com Cal Fire, entre 2010 e 2014, incendiários iniciaram por volta de 910 incêndios somente na Califórnia, aproximadamente seis por cento do total no estado. Esses incêndios consumiram mais de 121000 acres. Embora, de acordo com o Serviço Florestal dos Estados Unidos, 90 por cento dos incêndios florestais em todo o país sejam causados pelo homem, a grande maioria é o resultado da negligência, não é intencional – fogueiras de acampamento ou faíscas de balas provenientes de práticas de tiro ao alvo não contam como incêndios propositais. O incêndio proposital é um ato voluntário.

Em agosto, Ed Nordskog, ex investigador de incêndios intencionais, disse ao Sacramento Bee que existem diferenças entre incendiários urbanos e rurais em termos de métodos utilizados, mas que a psicologia subjacente - querer ser um herói, observação do incêndio, isolamento, cólera – é a mesma. Bob Duval, investigador de incêndios e diretor da região Nordeste da NFPA, tem uma perspectiva similar: um incendiário é sempre um incendiário, ele diz, e as questões de saúde mental são subjacentes em qualquer incendiário independentemente do lugar onde iniciam os incêndios.
Apesar da conclusão de Nordskog no articulo do Bee que “o incêndio proposital não é um crime evitável”, dado o impacto desse tipo de incêndio no verão passado, penso que vale a pena perguntar se seria possível lidar com as motivações dos potenciais incendiários antes que seus incêndios consumam toda a atenção.

Tentou-se trabalhar nisso. Os programas para incendiários juvenis, dirigidos pelas agências dos inspetores de incêndio dos estados, existem em estados de todo o país. Esses programas buscam lidar com os comportamentos anti-sociais dos jovens que começam com fósforos e passam aos contêineres de lixo, edifícios e florestas. Em seu sitio web, a NFPA apresenta dicas para prevenir as ações incendiárias por parte dos jovens, e as normas da NFPA fornecem requisitos de treinamento para os educadores dos jovens incendiários.

O Capítulo 28 da NFPA 921, Investigações de Incêndios e Explosões, detalha a metodologia de investigação das causas e origens dos incêndios florestais, ajudando os investigadores a determinar se houve crime. O comitê técnico da NFPA 921 está considerando ampliar o capítulo para a edição 2020 da guia e está trabalhando com o National Wildfire Coordinating Group, um comitê federal que reúne diferentes agências e desenvolve normas sobre operações em incêndios florestais. Ter melhores informações sobre quantos incêndios foram causados voluntariamente e como foram iniciados informará futuras iniciativas de conscientização e prevenção.

Com a quantidade de terra seca aumentando em todo o planeta, alguém com um fósforo pode causar mais danos hoje do que nunca. Não podemos apenas ficar parados e esperar que não aconteça nada.

LUCIAN DEATON é diretor de projeto na Divisão de Incêndios Florestais da NFPA.

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