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O debate sobre o uso dos elevadores para a evacuação dos ocupantes

ENTREVISTA REALIZADA POR ANGELO VERZONI

Quando aviões seqüestrados por terroristas atingiram o World Trade Center na cidade de Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001, por volta de 17400 pessoas lutaram para abandonar as torres. A maioria tomou as escadas. Os relatos de sobreviventes descrevem as escadas dos edifícios lotadas pelos ocupantes que tentavam descer e os socorristas que tentavam subir, demorando a evacuação. Houve relatos de fumaça nas escadas e água de canos quebrados descendo em cascada pelos escalões. Em duas horas, ambos os edifícios ruíram. Quase 3000 pessoas morreram.

Os ataques terroristas de 9/11 ilustram os problemas que podem ocorrer quando um grande número de ocupantes dos edifícios se precipita rumo às escadas para sair, especialmente nos edifícios altos. Se mais pessoas tivessem usado os ascensores, teria havido mais sobreviventes? É difícil dizer, já que os relatos do 9/11 sugerem também que os ascensores paralisados contribuíram a causar mais mortes e os poços de elevador canalizaram querosene de aviação para os andares inferiores e espalharam a fumaça pelos edifícios inteiros. Mas o 9/11 de fato reabre o debate – uma conversa que começou depois do incêndio da fábrica Triangle em 1911 – sobre como evacuar de forma segura os ocupantes dos edifícios usando elevadores além das escadas.

Praticamente desde que os elevadores existem, fomos condicionados a evitá-los em caso de incêndio ou outras emergências. Agora que a tecnologia dos ascensores avança e que aparecem elevadores para evacuação dos ocupantes, (ou OEEs da sigla em inglês), essa noção está mudando pouco a pouco. Em princípio, os OEEs não parecem diferentes dos elevadores comuns de passageiros, mas foram concebidos para ser usados em incêndios e outras emergências para evacuar os ocupantes dos edifícios assim como para uso diário. É uma evolução quase inevitável visto que os edifícios são cada vez mais altos. Atualmente, o edifício mais alto do mundo é o Burj Khalifa em Dubai, com mais de 2700 pés de altura – mais de 1000 pés mais alto que as torres originais do World Trade Center. A Jeddah Tower, um edifício em construção na Arábia Saudita, vai superar o Burj Khalifa em 600 pés.

Enquanto os proponentes dizem que a necessidade de elevadores para evacuação está clara, os bombeiros e os funcionários responsáveis pela segurança das pessoas ainda desconfiam. Isso foi evidente quando Sagiv Weiss-Ishai, engenheiro de proteção contra incêndios do Corpo de Bombeiros de São Francisco, deu uma palestra sobre os OEEs na Conference & Expo da NFPA em Boston em junho. (Weiss-Ishai é membro do comitê técnico de Sistemas de Alarmes de Incêndio e Sinalização para Instalações Protegidas do NFPA 72®, Código de Alarme de Incêndio e Sinalização e é também membro do grupo de Trabalho sobre OEE para o NFPA 72, seção 21.6). Sua apresentação atraiu muitos participantes, alguns dos quais dispararam perguntas durante os 90 minutos da palestra. Em outono, São Francisco será a primeira cidade dos Estados Unidos com um OEE que vai integrar aquilo que se conhece como OEO, ou operação de evacuação de ocupantes, como definido no A17.1/CSA B44, Código de Segurança para Elevadores e Escadas Rolantes da American Society of Mechanical Engineers (ASME).

O OEO é a operação específica do sistema do elevador que diz aos OEEs aonde e quando devem ir para evacuar as pessoas de forma segura num incêndio ou outra emergência. Os sistemas de elevadores num punhado de edifícios altos no mundo – incluindo o Burj Khalifa e o One World Trade Center, erguido perto do local das torres originais na Baixa de Manhattan – incorporam alguns dos atributos dos OEEs, mas não chegam a ter a função de OEO. Atualmente, os OEEs instalados de acordo com a seção 3008 do International Building Code (IBC) devem incorporar um OEO.

O NFPA Journal falou com Weiss-Ishai depois de sua apresentação na C&E par perguntar como funcionam os elevadores para evacuação, por que são necessários e como ele vê o desenvolvimento dessa tecnologia.

Por que se considera inseguro tomar um elevador normal num incêndio?

É inseguro tomar um elevador normal por diferentes motivos. Se houver um incêndio no edifício e alguém tentar usar o elevador, ele poderia tomá-lo até o andar do incêndio. Algumas pessoas morrem assim. O calor do incêndio pode derreter os botões de chamada do elevador no patamar, causando um curto circuito no contacto, e é como se alguém chamasse o elevador para o andar do incêndio. Existem mais motivos, mas esta é a essência. No são seguros. Não são projetados para serem usados num incêndio.

O que tem feito as pessoas com problemas de mobilidade?

Geralmente, nos edifícios que não tem elevadores para evacuação, temos duas possibilidades. Se o elevador ainda se encontrar em serviço normal porque não há fumaça suficiente no lobby para ativar a chamada de volta (recall) ou fechar o sistema de elevadores, uma pessoa em cadeira de rodas ou com problemas de mobilidade deve tomar uma decisão. Se a pessoa se sente suficientemente segura, se não sente o cheiro do incêndio e não vê fumaça e há áreas de refúgio em cada andar nas escadas ou no lobby do elevador, a pessoa pode se deslocar horizontalmente para essas áreas. As áreas de refúgio são projetadas com barreiras de fumaça e sistemas de comunicação que permitem que a pessoa chame e diga, “Estou aqui. Venham me buscar.” Mas se a pessoa vê o incêndio ou sente o cheiro da fumaça, ela pode decidir usar o elevador para escapar, assumindo que o elevador ainda esteja operando em condições normais de serviço. Mas o que é mais inseguro, tomar o elevador ou esperar a chegada do fogo?

Esse um dos motivos que torna necessários os OEE ?

O principal motivo pelo qual os OEE são uma boa coisa, em minha opinião, é que fornecem meios às pessoas que têm problemas de mobilidade para sair durante as emergências. Podem ser pessoas idosas ou crianças pequenas, e podem ser pessoas em cadeiras de rodas, mulheres grávidas, pode ser alguém com um problema numa perna, ou qualquer pessoa que fica nos andares mais altos dum edifício alto. O uso dos elevadores para evacuar ocupantes, além das escadas, poderá reduzir radicalmente o tempo de evacuação dos edifícios.

Para as pessoas que não têm problemas de mobilidade, quais são os problemas que surgem da evacuação das escadas?

Num edifício de escritórios, por exemplo, a lotação pode ser muito grande. Pode haver 500 pessoas num andar. Se você evacuar cinco ou seis andares, terá milhares de pessoas indo para as escadas, que ficarão superlotadas. Os bombeiros também usam as escadas. Se você tiver elevadores para evacuação, o processo será muito mais rápido.

Qual é a diferença entre os OEEs e os elevadores comuns?

De modo geral, são as características de proteção do edifício em volta dos elevadores – paredes corta-fogo, proteção contra a água, o calor, a fumaça, pressurização dos patamares e das escadas e prevenção da entrada de qualquer elemento nocivo no sistema do elevador. Caso haja um incêndio no edifício, o sistema do OEE foi projetado para prevenir a entrada do fogo e da fumaça no patamar do elevador ou no poço do elevador. Os OEEs podem também funcionar com energia auxiliar, sendo assim em caso de corte de energia no edifício um gerador de emergência muito potente poderá operar todos os elevadores de passageiros ao mesmo tempo.

De que forma a operação de evacuação dos ocupantes, ou OEO, funciona com o sistema OEE?

A OEO é a forma de projetar o elevador de acordo com o Código de Segurança de Elevadores e Escadas Rolantes da ASME para executar uma evacuação parcial ou total dum edifício sem que alguém aperte um botão ou diga aos elevadores o que fazer. É um programa eletrônico complexo, ou sistema informático, que programa o elevador para ir automaticamente a andares específicos. O sistema define as prioridades de onde e quando o elevador se desloca, com base nos inputs do sistema de alarme de incêndio do edifício especificado no NFPA 72. Três edifícios em construção em São Francisco serão os primeiros nos Estados Unidos com um sistema OEO completo conforme com a ASME. Acredito que as cidades de Nova Iorque e Seattle estejam também pensando fazer isso.

Como chegamos aos OEEs?

Enquanto o uso dos elevadores durante um incêndio tem sido discutido de uma forma ou de outra por mais de 100 anos, o conceito foi revisitado seriamente em 2002 com base numa parte do trabalho preliminar do estudo sobre o World Trade Center realizado pela FEMA e o NIST. Depois do 11 de setembro foram criados vários grupos de trabalho sobre a evacuação de edifícios altos. No início, a idéia era que precisávamos de mais escadas. O IBC passou a requerer que os edifícios de mais de 420 pés de altura tivessem uma escada adicional além do número normalmente requerido pelo IBC. Mais tarde surgiu o conceito de elevadores para evacuação, que originalmente devia ser acrescentado às escadas suplementares. Em sua forma atual, o IBC permite o uso dos OEEs em lugar da escada adicional, sempre que as outras escadas proporcionem a capacidade de saída necessária para o edifício.

Qual é sua posição sobre essa solução?

Pessoalmente, não gosto disso. Quero escadas adicionais. As escadas são sistemas passivos – não são sistemas inteligentes, não há nada nelas que possa falhar. Por razões econômicas, contudo, pode ser tentador para os proprietários e os arquitetos usar a exceção dos OEEs inscrita no IBC em lugar da escada adicional. As escadas podem ocupar até 250 pés quadrados em cada piso. Multiplique isso por 100 andares num edifício alto, falamos de muito espaço de propriedade de primeiro nível que não seria utilizado como espaço rentável.

De que forma os códigos da NFPA lidam com os OEEs?

Tanto o NFPA 101 como o NFPA 5000 têm seções sobre os OEEs. Os códigos proporcionam os critérios de projeto e operacionais. Não dão credito de saída para os OEE e não têm requisitos para uma escada adicional se não forem fornecidos OEEs. A seção 21.6 do NFPA 72 contém informação sobre elevadores para a evacuação dos ocupantes desde a edição 2010. Desde então foi revisto e completado. Propomos uma nova seção baseada em muitas horas de trabalho do grupo. Se a segunda versão for adotada em Julho, será incluída na edição 2019 do NFPA 72, sujeito a votação dos membros no próximo mês de junho.

Quais são os objetivos da revisão?

Essencialmente, trata-se de torná-lo mais coerente com o código ASME para elevadores, de forma que não haja incompatibilidades entre o NFPA 72 e o código da ASME. Muitas das revisões propostas para o NFPA 72 estão baseadas em experiências da vida real dos projetos de São Francisco e também no trabalho do grupo da ASME sobre OEO.

Você pensa que os OEEs serão mais comuns no futuro?

Sim. Neste momento, estão desenvolvendo todo tipo de novas tecnologias e inovações para os elevadores. Aparecem coisas novas todo o tempo. Não podemos parar o desenvolvimento da tecnologia de transporte vertical, então devemos garantir tanto como possível a segurança desses elevadores. É isso que estamos tentando fazer com todos os códigos que lidam com incêndio e elevadores: garantir que se algo acontece, os ocupantes e os bombeiros possam usar os elevadores de forma segura. As cidades se tornam superlotadas e as pessoas constroem essas torres, vão tentar concentrar nelas a maior quantidade possível de espaço utilizável, e tentarão instalar os OEEs em muitas dessas novas torres.

Durante sua apresentação na C&E, os participantes fizeram muitas perguntas. Alguns pareciam não confiar nos OEEs. Existem muitas preocupações a esse respeito?

É assustador. Ninguém construiu um sistema completo de OEE até agora. Devemos garantir que o sistema faça aquilo que se pretende que faça. Esperamos nunca ter de usá-lo. É basicamente o conceito de substituir um sistema passivo como as escadas por um sistema eletrônico, informático e mecânico muito, muito complicado, então muitas coisas podem falhar. Em caso de terremoto, por exemplo, o edifício treme e isso pode por todos os elevadores fora de serviço ao mesmo tempo. Agora o que pode fazer? Fazemos essa análise supondo que tudo funcione sem problemas. As pessoas estão preocupadas com isso. É por isso que, em minha opinião, ter os elevadores para evacuação como um acréscimo, e não uma substituição das escadas extra é a solução correta. Eu estaria muito mais a vontade.

ANGELO VERZONI é redator permanente do NFPA Journal

 

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