
Começou o trabalho para uma nova norma, a NFPA 2400, que promete fornecer aos organismos de segurança pública uma orientação muito necessária sobre o uso dos drones para a resposta de emergência.
Até pouco tempo atrás, a maioria dos corpos de bombeiros que exploravam o desenvolvimento dos programas com UAS mudavam rapidamente de idéia. Muitos ficavam frustrados por uma montanha de perguntas sem resposta ou ultrapassados pelos regulamentos da Administração Federal de Aviação (FAA, da sigla em inglês), de acordo com os membros do comitê com quem falei. Muitos dos corpos de bombeiros que decidiram ignorar tranquilamente as regras da FAA avançaram para descobrir que seus novos drones de recreio, com uma duração de bateria limitada, eram tão úteis num incêndio como um caminhão de bombeiros da Fisher-Price®.
Durante o último ano, contudo, a barragem que continha a adoção ampla dos UAS começou a ter vazamentos significativos e está prestes a romper. A regulamentação da FAA tem sido agilizada e simplificada, permitindo que quase qualquer corpo de bombeiros que o deseje possa obter um certificado legal para voar com um investimento mínimo. Entretanto, o custo dum UAS confiável e adequado para operações de segurança pública despencou até 1000 dólares ou menos, ao mesmo tempo em que a tecnologia e a funcionalidade melhoram. Em conseqüência disso, os líderes da segurança pública em todo o país vêem agora um caminho realista para um programa de robótica aérea e centenas de organismos, incluindo corpos de bombeiros, polícia e serviços de emergências médicas, estão avançando para lançar seu programa.
Charles Werner, presidente do comitê técnico da NFPA 2400 e assessor sênior do Departamento de Gerenciamento de Emergências da Virgínia, disse-me que no ano passado tem havido "um aumento exponencial do número de organismos de segurança avançando com o uso dos UAS e as aplicações são tantas que não posso contá-las nos dedos de duas mãos."
Em 2015 havia somente dois organismos na Virgínia que consideravam os programas com UAS, ele disse. Agora, o Departamento de Gerenciamento de Emergências da Virgínia está trabalhando com aproximadamente 45 entidades do estado para desenvolver seus próprios programas com UAS e o departamento já treinou por volta de 140 pilotos de UAS para emergências.
O aumento dessas atividades não se dá apenas na Virgínia. "De acordo com as discussões que tive com outros comandantes de bombeiros no país, fica claro que o uso dos UAS está aumentando rapidamente – conheço muitos corpos de bombeiros que já dispõem da tecnologia e obtêm grandes benefícios de seu uso," disse Keith Bryant, comandante de longa data do Corpo de Bombeiros da Cidade de Oklahoma e membro do comitê técnico da NFPA sobre UAS. (Ele deixará em breve seu trabalho em Oklahoma City para ser o próximo Administrador de Incêndio dos Estados Unidos, de acordo com um anuncio feito em maio pela Administração Trump.)
Mas mesmo quando outros gozam dos benefícios dos drones, Oklahoma City, como a grande maioria dos corpos de bombeiros de todo o país, ainda não os usa; Bryant me disse que hesitou em começar o programa por causa da falta de orientação. "Estaria muito mais tranqüilo se nosso departamento soubesse que estamos cumprindo todas as normas, leis, regulamentos e outros documentos recentes aplicáveis, razão pela qual estamos adotando uma abordagem conservadora," disse Bryant. "É por isso que estamos tão interessados na norma da NFPA, para ver seu conteúdo e quais seriam os requisitos. Penso que a norma nos daria uma orientação muito boa sobre o que fazer em termos de equipamento necessá rio e como vamos usá-lo."
De acordo com vários membros do comitê da NFPA 2400, essa falta de orientação pode ser o último grande obstáculo que está atrasando a chegada da era da robótica aérea à resposta de emergência. Enquanto alguns grandes corpos de bombeiros, como o Corpo de Bombeiros de Austin (Texas) e o Corpo de Bombeiros de Nova Iorque, já têm equipes que trabalham com a robótica aplicando procedimentos operacionais claros, protocolos de mobilização, programas de manutenção e políticas de dados e privacidade, a maioria dos corpos de bombeiros simplesmente não têm tempo, dinheiro ou conhecimentos técnicos para escrever seus próprios regulamentos sobre UAS. Por isso, muitos corpos de bombeiros como o de Oklahoma City estão esperando nas linhas laterais, enquanto outros já têm os robôs, mas não dispõem de programas e políticas sobre como usá-los. "Então muitos corpos de bombeiros estão perdidos com isso," disse Gary Honold, diretor regional da região noroeste da NFPA.
A maioria dos corpos de bombeiros que adquirirem um UAS, disse Honold, tem bombeiros apaixonados que vão ter com seus comandantes com boas intenções e convencem-nos de comprar um drone para o departamento. "Eles olham para aquilo e não têm idéia do que devem fazer," disse Honold com uma gargalhada. "Mas eles estão prontos a avançar com isso. Eu nunca vi tanto barulho com uma norma da NFPA como com esta. Parece que em todas as reuniões onde participo 30 por cento das conversas são sobre UAS. Ouço perguntas o tempo todo: ‘A NFPA está desenvolvendo isso? Estará pronta pra o fim do ano? Os nove inspetores de incêndios estaduais com os quais eu trabalho não podem esperar para ver a norma."
A NFPA 2400 se distingue em diferentes aspetos, desde o barulho até a abordagem holística de seu escopo até o ritmo mais rápido que o normal que o comitê leva para escrevê-la. Algumas normas demoram anos para ser escritas, mas a necessidade de dispor duma orientação agora, assim como os esforços da NFPA para agilizar alguns processos administrativos, poderiam resultar na aprovação da primeira versão da NFPA 2400 até o fim do ano, menos de dois anos depois do pedido inicial para criar o documento.
Em lugar de tópicos separados sobre UAS como operações num incidente, qualificações profissionais e a seleção, cuidados e manutenção dos dispositivos – como é o caso para algumas normas, como os documentos sobre viaturas de combate ao incêndio – a NFPA 2400 é abrangente. A intenção é dar aos organismos de segurança pública toda a informação de que precisam num único documento porque é conveniente e fácil de usar.
Existe uma urgência para publicar o documento por uma série de motivos, de acordo com vários membros do comitê técnico da NFPA 2400. O mais óbvio é a preocupação que muitos organismos de segurança pública estejam utilizando drones sem verdadeiras políticas ou procedimentos e talvez até ilegalmente sem a aprovação da FAA, disse Christopher Sadler, chefe adjunto da divisão de serviços técnicos e operações especiais do Departamento de Segurança Contra Incêndio e Proteção da Vida do Condado de York (Virgínia).
"Não me parece que eles façam isso sabendo que é ilegal, simplesmente a informação não está disponível," ele disse. "Mas é um grande problema de gerenciamento de risco e de percepção pública."
De acordo com os observadores, além do perigo óbvio dum acidente sério com um drone que poderia causar danos a um respondedor ou a um civil, mesmo a impressão de imprudência pode prejudicar o movimento emergente de uso dos drones antes que possa arrancar plenamente. O público está finalmente começando a sentir-se a vontade com os drones usados para a segurança pública depois de anos de resistência causada principalmente por preocupações quanto à privacidade. "Basta um erro para que tudo isso volte a incomodar," disse Sadler. "Ter a norma da NFPA garante aos nossos clientes e aos nossos funcionários públicos eleitos que fazemos as coisas corretamente e que agora vamos seguir um roteiro que constitui uma meta para o trabalho dos bombeiros."
Muitos corpos de bombeiros avançaram com o pedido de autorização da FAA para o uso de drones. Desde a publicação da Parte 107 do regulamento da FAA sobre pilotagem de drones comerciais em junho 2016, foram emitidos aproximadamente 43000 Certificados de Piloto Remoto (Remote Pilot Certificate), de acordo com o administrador da FAA Michael Huerta. Os certificados permitem aos operadores de drones comerciais (incluindo os operadores no âmbito da segurança pública) pilotar os drones com algumas restrições, como voar debaixo dos 400 pés e manter o drone na linha de visão do operador (ver "as regras da FAA" ao fim do artigo). O processo de obtenção da licença de piloto inclui um teste administrado pela FAA, uma simplificação radical do processo caro e que durava meses requerido previamente para obter um certificado de autorização da FAA, ou COA, que era a única forma para as agências de segurança pública usar drones. Não se sabe qual é a proporção dos certificados de piloto emitidos de acordo com a nova Parte 107 que foram outorgados a operadores da segurança pública, mas claramente está aumentando.
Contudo, líderes do movimento a favor do uso de UAS para a segurança pública, indicam logo que obter uma credencial de piloto da FAA não significa que uma entidade pública esteja preparada para levantar vôo. Trata-se de muito mais que passar um teste e comprar um drone, disse Coitt Kessler, que lidera a equipe de trabalho sobre desenvolvimento da robótica de emergência do corpo de Bombeiros de Austin, um dos primeiros corpos de bombeiros do país em receber uma autorização da FAA para usar drones.
"A FAA não concebeu a Parte 107 pensando especificamente nos organismos de segurança pública – encaixamos na 107 e faremos que funcione para nós como o fizemos para os certificados de autorização (COAs, da sigla em inglês)" disse Kessler- "Mas existem lacunas no que diz respeito aos certificados. Por exemplo, de acordo com a FAA, você pode autocertificar seu pessoal – o que isso significa? Você dispõe realmente dum programa para certificar alguém? Minha resposta é espero que sim. É por isso que até agora tem sido como no faroeste – equacionar tudo sem uma verdadeira orientação é realmente difícil."
A mesma FAA disse que a nova regra de licenciamento não é mais que um documento geral que fala de modo amplo a todos os pilotos comerciais, e não foi concebida sob medida para as necessidades únicas de algum grupo em particular, como os respondedores. Para os detalhes finos, a administração espera que organizações como a NFPA assumam a responsabilidade, disse Wes Ryan, diretor do ramo de tecnologia avançada da FAA.
"Estabelecemos uma estrutura regulamentar que precisa ser completada pelos conhecimentos especializados da indústria - entendemos que a FAA não pode resolver isso sozinha," disse Ryan durante um painel de discussão realizado recentemente no âmbito da Conferencia Internacional Anual para Sistemas de Veículos não Tripulados (AUVSI) em Dallas. "Precisamos colaborar de perto com os parceiros da indústria para alcançar um desenvolvimento das normas que permita a todos implementar esta nova tecnologia de forma controlada."
No mesmo momento em que a orientação para o uso os drones para segurança pública está sendo elaborada, já existem centenas de exemplos de robôs utilizados com êxito nesse campo. Suas numerosas aplicações incluem procurar pessoas desaparecidas e localizar vitimas de desastres; inspecionar locais difíceis de alcançar, como a parte de baixo duma ponte; percorrer centenas de milhas quadradas de floresta procurando sinais de incêndios florestais; assegurar edifícios e tetos antes dum desfile ou de grandes eventos públicos e permitir que os comandantes do incidente vejam detalhes importantes dum incêndio.
A tecnologia parece estar funcionando em Austin onde durante os últimos dois anos os membros da equipe de robótica aumentaram de oito empregados de corpos de bombeiros a 21. E tem sido também efetiva na Cidade de Nova Iorque, em março, quando o FDNY lançou seu primeiro drone num incêndio no Bronx. Os drones amarrados (tethered) – que ficam conectados a uma base térrea por um pequeno cabo de alimentação elétrica e dispõem de tempo de vôo ilimitado – têm um custo estimado em 85000 dólares por unidade e são equipados de câmaras normais e infravermelhas.
"Para um comandante essa ferramenta é como o dia e a noite comparada com aquilo que era não só faz 30 anos, mas 15 anos atrás, quando comecei a usá-la," disse Daniel A. Nigro, administrador de incêndio da Cidade de Nova Iorque, ao New York Times. "O avanço desse tipo de tecnologia representa uma vantagem enorme para nós e para os corpos de bombeiros em todo o país."
O Condado de York, na Virgínia, tem uma equipe conjunta da polícia e dos bombeiros que trabalha com UAS oferecendo seu apoio a varias organizações e jurisdições do condado desde novembro. A equipe usou drones para procurar suspeitos de homicídio e prisioneiros em fuga, realizar avaliações de danos causados por tornados, fornecer informação para o gerenciamento de incidentes em caso de incêndio e até como parte de seus treinamentos para resposta a atiradores ativos, disse Sadler. Como em cada empreendimento novo, foi uma experiência de aprendizagem, mas os resultados foram absolutamente positivos. A parte mais difícil tem sido de fato deixar de lado velhos hábitos e convencer as agências de aproveitar as capacidades da nova equipe. "Tem sido muito interessante – a metade das organizações está muito entusiasmada com isso e quer que as ajudemos com nossos recursos e a outra metade diz que não espera nada de nós," disse Sadler.
Nesses casos, geralmente a equipe dos UAS convence a jurisdição a permitir nossa intervenção de qualquer jeito para poder usar o incidente para treinamento e determinar o nível de funcionamento do conceito.
"Cem por cento das vezes, depois de termos demonstrado nossas capacidades, eles mudaram completamente de idéia." Disse Sadler.
Um exemplo recente envolveu um grande incêndio numa marina numa jurisdição vizinha. Um helicóptero da polícia do estado e uma aeronave de asa fixa já tinham sido mobilizados, mas o estado chamou também a equipe de UAS. Mas quando Sadler contatou a jurisdição local, a resposta inicial foi não, obrigado.
"Suponho que eles pensavam que já tinham milhões de dólares em equipamento no céu, então porque precisamos [da equipe UAS]," explicou Sadler. "Mas era um dos incidentes onde nos permitiram aparecer, provar nosso conceito, e praticar. Cinco minutos após nossa chegada, podíamos fornecer vídeos ao vivo ao centro local de operações de emergência, ao centro estadual de operações de emergências, ao gabinete da administração do comandante dos bombeiros – eles ficaram totalmente surpreendidos por nossas capacidades."
Quando o gabinete do inspetor de incêndio tomou conhecimento das nossas atividades, eles chamaram Sadler. "Havia áreas da marina que eles não podiam ver desde os barcos e seguramente não desde uma aeronave - o avião voava a 500 pés de altura – mas nós podíamos descer até 10 pés acima da água e gravar vídeos dentro da marina, e debaixo dos ancoradouros cobertos – eles não podiam conseguir isso de nenhuma outra maneira," ele disse. "Então entregamos um iPad com nossos vídeos para que digam exatamente em que partes queriam ampliações e capturas de imagens e vídeo para fins de investigação e documentação."
Werner, presidente do comitê da NFPA 2400, disse que esses exemplos são apenas uma pequena parte das vastas possibilidades dos drones. "Os UAS podem ter um impacto sobre cada modelo de negócios existente na segurança pública – eles estarão por toda parte," ele disse, predizendo que dentro de cinco anos 90 por cento dos organismos de segurança pública ou serão capazes de usar UAS ou terão uma forma de obter essa capacidade, e todos vão usar a NFPA 2400.
"Da mesma forma como passamos do cavalo aos automóveis, penso que essas coisas estarão voando no céu por toda parte," ele disse. "Todos estaremos acostumados a isso. É emocionante participar da criação desta norma."
Sadler, que observou de perto as possibilidades dos drones, não tem dúvidas quanto a isso. Ele acredita que a mudança nos bombeiros vem em ciclos e que os bombeiros de hoje estão prontos para uma grande mudança.
"Nos anos 80, HAZMAT era o grande tema de atualidade. Nos anos 90 era o resgate técnico. Nos anos 2000 foi a integração de maior quantidade de Serviços de Emergências Médicas aos bombeiros. Nos anos 2010 até os 2020, tem sido a tecnologia," ele disse. "Esta década será conhecida pelos UAS."
De acordo com a Administração Federal de Aviação (FAA), existem duas formas para que um respondedor lance legalmente um drone em serviço: deve ter pelo menos 16 anos e passar o Airman Knowledge Test, um teste de duas horas com 60 perguntas sobre conhecimentos básicos de aeronáutica num centro de exames aprovado pela FAA; ou deve ter pelo menos 16 anos e ter um certificado de piloto de acordo com a Parte 61, que não seja um certificado de estudante de piloto (student pilot certificate), deve fazer um curso online sobre o uso de pequenos UAS ministrado pela FAA e deve ter completado um recheque de vôo nos últimos 24 meses.
Para informação sobre as regras da FAA sobre UAS e informação relacionada, visite faa.gov/uas. |
A National Fire Protection Association (NFPA) é a fonte dos códigos e normas que regem a indústria de proteção contra incêndios e segurança da vida.